“É sempre bom olhar para todos os lados”. Este é o conceito do comercial da Samarco, veiculado recentemente, acreditem vocês, ou não.
Depois de assistir o comercial institucional da Samarco, veiculado recentemente, parei e fiquei uns 30 segundos em silêncio. Sem reação. Não acreditei em tamanha falta de noção; comecei a procurar por mais fontes, eu queria acreditar, de verdade, que aquele filme se tratava de algum tipo de “zueira” dessa internet marota e revolucionária de hoje em dia, ou algo do tipo que serviria para lembrar o povo que nada ainda foi feito, ninguém foi punido e a revolta e cobrança do povo morreu no carnaval (ou antes).
Mas, infelizmente, não, não era nenhuma zueira. O filme, eleito por mim, o comercial mais sem noção da história da propaganda, havia mesmo sido veiculado em rede nacional.
Por isso, hoje eu resolvi usar este humilde espaço, ao qual gosto de expor minha opinião sobre Comunicação e Marketing, para deixar uma questão digna de reflexão para todos nós, publicitários. Comunicadores. Influenciadores. Criativos. Planejadores e estrategistas.
Assista o Comercial: É sempre bom olhar para todos os lados.”
Até que ponto a propaganda pode atropelar os limites do bom senso e ignorar um fator primordial para a evolução da sociedade, servindo de “pano quente”,chamado: responsabilidade social?
“É sempre bom olhar para todos os lados”. Sério? Sério que, 3 meses depois da maior tragédia ambiental da história do país, que desabrigou famílias e tirou vidas, foi ao ar, uma campanha nacional, dizendo que é sempre bom olhar para todos os lados? Más notícias para os criativos responsáveis, diretores de marketing e envolvidos pelos depoimentos: a gente tá olhando e só tá vendo a coisa afundando em mais lama.
Sim, eu entendi o recado e sei que a Tom Comunicação, agência responsável, junto com a direção de marketing da Samarco, resolveram tentar amenizar a desgraça. Mas, sinceramente, na minha opinião isso não foi um tiro no pé, foi um tiro de 12 com cano cerrado, a queima roupa, na cabeça.
A Tom Comunicação é a agência responsável pela comunicação da Samarco desde 2012. Confesso não conhecer o histórico de comunicação de ambas as empresas, e o pouco que li sobre a atuação das duas, vi que elas já realizaram alguns projetos de cunho social, inclusive projetos premiados. Mas não pesquisei o suficiente para entrar em detalhes sobre trabalhos anteriores
Retomando o raciocínio sobre a campanha…
Dia 18/02, uma semana após esta obra prima da falta de noção, ser veiculada, O CONAR, nosso querido e amado CONAR, segundo o site do Meio e Mensagem, abriu um processo contra o comercial. Para quem não sabe do que se trata o CONAR, ele é o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária e tem o “poder” de notificar responsáveis (ou irresponsáveis) por campanhas que julgam inadequadas ou que recebem denúncias de um determinado número de pessoas.
Até agora, o processo contempla apenas o comercial, deixando de lado outras mídias, como por exemplo o site da campanha, que estão listados alguns números e feitos desde a tragédia. Desculpa, mas são números irrelevantes diante da amplitude catastrófica do ocorrido. Ainda estou acompanhando o desenrolar do processo que, até onde sei, parou com o Ministério Publico de Minas Gerais, solicitando a prestação de contas que, segundo o G1, questionam sobre os valores investidos na ação publicitária. E cá pra nós, sabemos que o investimento para se veicular na Globo, não é barato.
É, meus amigos, vamos continuar acompanhando o caso e tirando nossas conclusões. Mas volto a pedir para que façamos uma reflexão profissional, sobre até onde a propaganda deve servir apenas como meio, ignorando os efeitos da mensagem sobre a sociedade e contexto da mensagem assim, com tanta facilidade Com tanta falta de sensibilidade.
Até o próximo post e muito obrigado por dedicar um tempinho por aqui. 😉
